Arquivo da tag: Guy Pearce

Traição oportuna

Bruna Buzzo

o_traidor2Você provavelmente já foi enganado pelo começo de muitos filmes. O Traidor (Traitor) é mais um para ser colocado nesta lista. No filme, agentes do FBI investigam uma conspiração terrorista islâmica que tem colocado homens-bomba em diversas partes do mundo. Pelas análises da polícia (em especial do agente Roy Clayton, interpretado por Guy Pearce), um ex-militar especializado, Samir Horn (Don Cheadle) é apontado como membro da organização. A sinopse, vista assim, não engana o espectador prevenido: este filme é, sim, mais uma defesa dos ideais norte-americanos em busca de sua suposta soberania e segurança perdidas.

O traidor do título é um homem dividido entre seus lados norte-americano e islâmico: filho de uma moça de Chicago com um senhor do Congo, Samir nasceu nos EUA e viveu a maior parte de sua vida no oriente, onde tomou contato com a religião islâmica que segue com tanto fervor. Devotado à Deus acima de tudo, em muitas cenas não conseguimos entender as ações de Samir, as vezes um pouco confusas. Esta teia narrativa conduz a história por alguns caminhos sem sentido e outros que talvez você preferisse evitar.

o_traidorCom 114 minutos, O Traidor é um pouco arrastado e, talvez, maior do que o desejável. Ainda bem que as músicas foram bem escolhidas! A trilha sonora colabora para criar tensão nas cenas de ação e envolve muito mais os espectadores do que o confuso roteiro. Ainda me pergunto de onde surgiu o agente (da CIA, acho) com quem Samir conversa em algumas cenas. Ele aparece antes? Quando deixa a cena, entendemos quem era?

Deste filme, salvem-se as atuações. Bons atores e algumas reflexões interessantes que podemos pensar a partir dos personagens de Don Cheadle e Guy Pearce. Aos olhos dos agentes comuns do FBI, Samir é o negro, islâmico, religioso fanático, o terrorista. Clayton é um policial branco, loiro, intelectual, filho de um típico pastor norte-americano, estudou árabe na faculdade e terminou no FBI, tem sensibilidade para compreender as ações passionais do grupo radical islâmico. Tem a suavidade de manter-se vivo em meio ao caos.

Lançado aqui no Brasil pouco tempo depois da eleição de Barack Obama, não deixa de ser curioso ver o “mocinho” negro que salvará a pátria mãe. Nos EUA, o filme estreiou no final de agosto e, se pensarmos bem, deve mesmo haver alguma mensagem por trás do roteiro. Ou, para o bem deste longa, espero que sim.

A estrada é delas (es)!!!

Bruno Benevides

Priscilla, a rainha do deserto é um daqueles filmes que todo mundo já ouviu falar, sabe do que se trata e diz que é ruim, mas pouca gente viu. Para resolver este problema aluguei o DVD e o assisti domingo à tarde, enquanto na tevê passava a rodada de clássicos do campeonato brasileiro e meus amigos bebiam cerveja na Vila Madalena.

Pode-se dizer que Priscilla é uma mistura de road movie, comédia e musical. Estão lá todos os elementos que fazem um filme de estrada: amigos, as paisagens desconhecidas, o meio de transporte clássico e uma música que não sai da cabeça. Só que aqui os amigos são três transexuais de Sydney, a paisagem é o deserto australiano, o meio de transporte é um ônibus rosa chamado Priscilla e a música tema é “I will survive”! A história mostra como os(as) três amigos rodam pelo interior da Austrália rumo a uma pequena cidade na qual devem apresentar seu show enquanto, evidentemente, procuram resolver suas dúvidas existenciais.

Diferente do que se espera, Priscilla é um filme bastante bem feito. Destaque para a fotografia, que alterna a solidão e tédio do deserto com o exagero colorido e brega dos travestis. E o elenco merece respeito. Dali surgiram dois atores que tempos depois ganhariam destaque em Hollywood, Guy Pearce (protagonista de Amnésia, entre outros) e Hugo Weaving (o inesquecível agente Smith de Matrix). Mas quem rouba a cena é o experiente Terence Stamp como Bernadette, um travesti durão (sem trocadilhos) com visual de vovó.

É claro que estão presentes todos os elementos que fizeram do filme um clássico gay, da trilha sonora ao visual hiper exagerado, passando pelos números musicais em que os três se apresentam devidamente caracterizados. Mas o filme não se resume a isso, tendo alguns bons momentos, principalmente quando estão na tela alguns coadjuvantes que surgem no meio da viagem.

Ao final Priscilla não é o melhor filme do século, mas tem mais graça do que alguns que estão por aí. É original na forma, apesar do conteúdo ser cheio de clichês nos assuntos tratados, tais como a relação homem-natureza e a busca por amor e aceitação. De qualquer forma deve ter sido melhor ver o filme do que assistir meu time perdendo na televisão. E ainda deu tempo de ir ao bar!